Portugal concluiu da melhor maneira a fase de qualificação para o Mundial da
Alemanha, cumprindo os objectivos que Scolari não se cansou de enumerar nos
últimos tempos. Não realizou uma partida fantástica, mas esteve claramente
melhor que no passado sábado, contra o Liechtenstein, no encontro que garantiu a
presença em terras germânicas. Venceu, não por meio a zero mas por claros 3-0,
teve momentos de grande fulgor e talvez mais importante foi a maneira como os
atletas se aplicaram, do primeiro ao último minuto, numa clara demonstração de
profissionalismo, não deixando dúvidas que mesmo não precisando do resultado
queriam ganhar, dar espectáculo e saldar a dívida que tinham com os adeptos
portuenses.
O adversário não tinha grandes credenciais mas
isso, muitas vezes, é o que menos conta. Portugal sabia que só entrando de
rompante, garantindo o controlo das operações e não dando qualquer veleidade ao
seu oponente, é que podia aspirar a um resultado volumoso, que teria muito mais
hipóteses de fazer uma exibição que satisfizesse os milhares de espectadores que
marcaram presença no Dragão. E, ontem, as contas foram todas saldadas. A derrota,
no jogo de abertura do Euro'2004, foi apagada da memória dos adeptos -
naturalmente no sentido figurado, uma vez que a história não se apaga -,
Portugal mostrou que tem capacidade, e armas, para derrotar equipas que apenas
se preocupam em tentar evitar que as suas balizas sejam violadas e, por último,
que tem um lote de jogadores que poderão permitir a Scolari optar por outros
esquemas que não apenas o de um ponta-de-lança fixo. No meio de tudo isto,
Pauleta ainda teve a arte de se tornar o melhor marcador de sempre da Selecção
Nacional.
Ao contrário do que tinha dito na véspera, o seleccionador nacional não fez três
alterações em relação ao onze que tinha actuado no sábado passado. Scolari mudou
praticamente toda a estrutura defensiva - Jorge Andrade foi o único que não foi
poupado -, enquanto que no meio-campo Deco e Tiago renderam Petit e Simão. E de
todas estas alterações a inclusão de Deco foi claramente aquela que mais se fez
notar. Com o Mágico em campo, a equipa ganha uma outra consistência o que se por
um lado é bom, por outro é mau, já que mostra que o técnico vai ter que se
esforçar muito para encontrar alternativas à dependência que a equipa tem da
classe do jogador que actua no Barcelona.
Portugal entrou disposto a resolver a questão
muito rapidamente. No seu habitual esquema de dois médios mais defensivos, atrás
de um trio formado por Deco, Cristiano Ronaldo e Figo, as primeiras indicações
mostraram um futebol rápido, ao primeiro toque, que permitiu abrir espaços na
defesa da Letónia com grande facilidade. Pressionando o adversário logo á saída
da grande área, dominando por completo as operações a meio-campo e cortando
todas as linhas de passe para que os avançados letões tivessem oportunidade de
incomodar Quim, Portugal resolveu a questão em dois minutos. Antes, os remates
de meia distância tinham sido a principal opção, mas a pontaria não se revelou
muito afinada.
A superioridade da Selecção Nacional era inquestionável. A Letónia, estruturada
num tímido 4x4x2 em que a prioridade era defender e explorar o contra-ataque,
não conseguia construir uma jogada com princípio, meio e fim. Maniche, que
esteve muito melhor do que no encontro com o Liechtenstein, bem auxiliado por
Tiago, chegava e sobrava para "varrer" o meio-campo, cabendo depois a Deco a
tarefa de construir o jogo ofensivo. E o luso-brasileiro não se fez rogado. Ao
seu melhor nível, foi construindo jogadas atrás de jogadas que baralhavam por
completo a estrutura defensiva do adversário, permitindo que Figo, Cristiano
Ronaldo e Pauleta tivessem os espaços que não existiram no encontro de sábado
passado.
E, no espaço de dois minutos, Portugal resolveu a questão. Pauleta, vezes dois, deu corpo ao primeiro objectivo - vencer -, acabando com as poucos, para não dizer nenhumas, veleidades dos letões em conseguirem causar qualquer surpresa no Dragão. Até porque Quim, excepção feita a um lance perto do intervalo, foi um espectador tranquilo e sem trabalho.
Na segunda metade, Scolari apostou na mudança da estratégia. Colocou dois pontas-de-lança, abrindo uma frente de quatro elementos, com Deco a encostar-se ao flanco direito e Figo ao esquerdo. As oportunidades de golo surgiram naturalmente, da mesma forma que surgiu muito mais espaço para os médios da Letónia. Scolari viu essas brechas e mandou recuar Deco, equilibrando novamente a equipa. E não fora a noite de desinspiração de Nuno Gomes, Portugal podia ter chegado com facilidade ao quarto e ao quinto golos. Mas, contas feitas, Portugal está na fase final do Mundial, não averbou qualquer derrota na caminhada para a qualificação e mostrou, salvo raras excepções, que ficar entre os oito melhores como Scolari deseja não é uma utopia.
Estádio do Dragão | relvado: bom estado|
espectadores: 35 000 | árbitro: Peter Froejdfeldt, Suécia | assistentes: Kenneth
Petersson, Stefan Wittberg | 4º árbitro: Jonas Eriksson
GOLOS [1-0] Pauleta 18', [2-0] Pauleta 20', [3-0] Hugo 85'
12 Quim GR
13 Miguel LD
29 Fernando Meira DC
4 Jorge Andrade DC
15 Caneira LE
19 Tiago MO
18 Maniche MO
7 Figo AD 79'
20 Deco MO
17 Cristiano Ronaldo AE 46'
9 Pauleta AV 57'
Luiz Felipe Scolari
1 Ricardo GR
2 Paulo Ferreira LD
16 Ricardo carvalho DC
30 Hugo Viana MO 79'
11 Simão AE
21 Nuno Gomes AV 46'
23 Hélder Postiga AV 57'
Amarelos 26' Tiago
1 Kolinko GR
7 Isakovs LD
4 Zakresevskis DC
2 Stepanovs DC
6 Zirnis LE
5 Morozs MD
3 Astafjevs MD
8 Solonicins AD 51'
10 Rubins AV
9 Verpakovskis AV 73'
11 Rimkus AV 57'
Jurijs Andrejevs
12 Piedels GR
13 Smirnovs LD
16 Korablovs DC
18 Kolesnicenko MD
14 Visnakovs MO 51'
17 Blanks AV 73'
15 Kalnins AV 57'
Amarelos 60' Zakresevskis