29/06/2006 "A
Bola" (online)
Nada «british»
O jogo Inglaterra-Portugal, dos
quartos-de-final do Campeonato do Mundo, já deu o pontapé de saída. Não
foi dentro do campo, porque os jogadores só têm de apresentar
credenciais a partir das 16 horas de sábado, em Gelsenkirchen, mas de
forma colateral, com a chancela dos suspeitos do costume: os mentirosos
tablóides britânicos, que ontem fizeram cair na pacata Marienfeld as
primeiras bombas. Sem sorte, porque os escudos lusos estão a funcionar.
As
incidências provocadas pela vitória de Portugal frente à Holanda, os
mimos que Luís Figo e Van Bommel trocaram, as declarações de Valentin
Ivanov mais os recados que se podem ler nas entrelinhas, assim como a
indignação de Luiz Felipe Scolari, caíram como sopa no mel dos ingleses
a escassos quatro dias do jogo que decidirá qual dos dois países
continuará a lutar pelo título mundial. De forma mais simplista: a
mentirosa imprensa tablóide britânica estava à espera de algumas
evidências para passar ao ataque e assumir as dores que eventualmente
são de outros e ainda não se manifestaram.
As primeiras bombas — leia-se invenções — caíram manhã bem cedo no
reduto português, mas foram repelidas. Primeiro, uma declaração de José
Mourinho sobre Peter Crouch e Ricardo Carvalho. É verdade que um dos
melhores treinadores mundiais — aí está mais uma realidade que alguns
ingleses não aceitam... —se referiu aos dois futebolistas... mas no
final de um Chelsea-Liverpool para o campeonato, já lá vão alguns meses.
Depois, uma entrevista a Pauleta publicada no The Sun, com base
numa conversa com a Rádio Renascença (prontamente desmentida como não
podia deixar de ser, pois os jogadores portugueses só falam na tenda
destinada aos jornalistas e desde o início do estágio em Évora não houve
uma única entrevista individual) que a Sky Sports respigou, e onde se
podia ler que a defesa inglesa comete muitos erros e que Paul Robinson é
o elo mais fraco da equipa. Quem conhece Pauleta sabe que é impossível o
jogador ter dado a entrevista e ter proferido tais opiniões.
É evidente que pessoas de bem, como é toda a gente que integra a
comitiva portuguesa, não confundem este tipo de jornalismo com a
qualidade da selecção de Inglaterra, mas é indiscutível a pressão que
está a ser feita de fora para dentro para desestabilizar a Selecção,
certamente reflexo dos dois triunfos conseguidos por Scolari, em 2002 e
2004, embora, porque ele é assim mesmo, Eriksson já tenha posto água na
fervura, uma posição que deixou muita gente encolerizada.
FPF firme
Mas o melhor estava para vir, pois a
conferência de imprensa dos dois jogadores eleitos para opinarem ontem (Pauleta
e Nuno Valente) teve casa cheia e alguns jornalistas ingleses vinham
prontos para prosseguir o ataque, mas a atitude da FPF foi firme na
pessoa de Afonso de Melo: primeiro denunciou a entrevista inventada,
pedindo o mesmo respeito que Portugal tem pelos adversários, depois só
permitiu três questões à imprensa britânica.
A casa não veio abaixo, mas o mal-estar foi evidente, notando-se que o
verniz de alguns tinha estalado e que a tão famosa fleuma britânica
tinha sido atirada às malvas. Nada british, portanto, o ambiente
que rodeia o jogo de Gelsenkirchen, patrocinado por gente que tem outra
forma de estar em jogo, mas que levou a devida resposta de um dos
capitães da Selecção Nacional, Pauleta, quando lhe perguntaram como é
que Scolari lida com os jogadores no que diz respeito ao que sai
publicado nos jornais:
— Isso fica para nós!
Esta sim, uma posição... british. Mas o melhor será esperar pelo
dia de hoje. Se até um paparazzi inglês já foi agarrado na
cozinha do hotel... |